Débora está lançando o livro Um Lama Tibetano na Amazônia, contando sua experiência, de 1996, o percurso até e a partir de lá, quando um grupo se reuniu para levar um Lama tibetano para conhecer a floresta. O livro é também um relato de sua vivência, em 1989, na ONG Saúde e Alegria, a maior referência de organizações ambientais do Brasil, e o primeiro registro escrito do entronamento do brasileiro Lama Michel Rinpoche.
Com prefácio da inglesa Lama Caroline e da cineasta, também budista, Anna Muylaert, que acompanhou a autora e Lama Gangchen na viagem à região do rio Tapajós, no Pará, o livro é organizado em cinco partes, onde “[…] Além dos textos clássicos escritos pelos mestres, também fazem parte do corpo dos ensinamentos budistas os comentários de praticantes”, conta.
A primeira parte, “Diários da Palhaça”, começa com a então bailarina, estudante de psicologia, conhecendo o universo acrobático, em aulas no Circo Escola Picadeiro, ninho do movimento cultural paulistano dos anos 1980. Sua inquietação a levou ao Instituto Rio Abierto, na Argentina, em 1986, sistema no qual formou-se como psicoterapeuta corporal, iniciando a integração do físico, emocional, mental e espiritual que a acompanha até hoje. Em 1989 mudou-se para Santarém, no Pará, para trabalhar como artista de circo e educadora junto ao Projeto Saúde e Alegria, que desde os anos 1980 se dedica aos povos originários e ribeirinhos. Também é inédito em livro o registro do trabalho da ONG, fundada em 1987.
A saga continua com os “Diários de uma Buscadora”. Como em um diário de viagem, Débora escreve sobre seu primeiro encontro com Lama Gangchen, suas viagens para o Tibete, Katmandu e para a Índia – testemunhando o entronamento do primeiro Lama brasileiro, Michel Rinpoche, aos 13 anos, em 1994, “[…] o menino que eu conhecia desde criança, havia sido reconhecido como um Tulku – um mestre reencarnado e ia ser entronado como um Rinpoche no Oriente”, conta.
“Romper com o conhecido, fazer experiências comigo mesma, desmecanizar os padrões presentes na cultura em que fui criada”. Assim, Débora, inicia a terceira parte do livro, com o sugestivo título “Um Desejo Compartilhado” onde instiga as pessoas a criar seus grupos de trabalho em benefício da comunidade.
“Uma viagem artística, ambiental e espiritual” e o início de uma jornada da Autocura NgalSo, através da prática “Fazendo as Pazes com a Amazônia” (Making Peace with the Amazonia), é lançada em Santarém, em 1996, meditação hoje praticada ao redor do mundo, em prol da floresta. “As viagens sempre me conduziram a uma experiência de transcendência e individuação”, conclui a autora.
Em “Confluências”, a possível origem comum e a conexão dos povos andinos, tibetanos e indígenas brasileiros, é contada, entre outros, pela atriz Marisa Orth, que também a acompanhou nesta viagem a Mendoza, na Argentina. “Qual é a ponte que pode unir os diferentes povos e culturas das três Américas?
O encontro da Águia e do Condor não vem por caminhos conhecidos, senão por uma ressonância de alma. A união vem pela expansão da consciência comum, por sentir-se pertencente a uma comunidade”, diz em trecho que traz a citação da obra “Indícios da próxima revolução: Os germes do futuro na América interior” de Ramón Munhoz Soler.
Na quinta e última parte de “Um Lama Tibetano na Amazônia”, Débora elabora os efeitos da covid e a morte do mestre, indicando um caminho de organização coletiva horizontal para os próximos tempos. Débora Tabacof se despede do leitor e do mestre Lama Gangchen em tom pessoal, compartilhando ainda os mantras que aprendeu para despoluir os cinco elementos – Terra, Água, Fogo, Ar e o Espaço –, para que o leitor possa entoar e sentir as energias do budismo.
O livro é o primeiro de uma série onde Débora Tabacof pretende trazer a público essa costura entre cultura pop e espiritualidade.