Há um certo consenso entre os historiadores, incluindo os não católicos, em apontar Bernardo de Claraval como a figura dominante do seu tempo. Falou-se mesmo no século XII como o século de São Bernardo. Personalidade fascinante e excepcionalmente dotado do ponto de vista humano, com rara sensibilidade, magne-tismo pessoal e notável ascendência não só sobre seus monges mas também sobre inúmeros de seus contemporâneos, homens e mulheres, religiosos, eclesiásticos e leigos, incluindo reis e rainhas e as pessoas mais poderosas de sua época, como o atesta sua vasta correspondência ainda hoje parcialmente conservada, foi certamente um dos maiores escritores em língua latina do período pós-clássico e um homem com atuação decisiva nos grandes acontecimentos de seu tempo. Entretanto, Bernardo não buscou a notoriedade ou o sucesso meramente humano nem fazer uma carreira em meio às grandezas deste mundo. Toda sua irradiação dependeu de sua imensa autoridade moral e, em última análise, de sua santidade. Tendo entrado aos 23 anos, em 1113, no então obscuro e modestíssimo mosteiro de Cister, só desejava humilhar-se e ocultar-se em Deus. Muito cedo porém começou a destacar-se, primeiro no meio monástico, depois na Igreja da França e por fim em toda Cristandade, da qual tornou-se uma espécie de árbitro. Entretanto sua influência não se limitou ao tempo de sua vida. Proclamado Doutor da Igreja e considerado como o último dos Padres, sem dever nada à grandeza dos anteriores, Bernardo foi o escritor eclesiástico mais copiado de sua época e, a partir do século XIII, gozou de uma importância comparável à de Santo Agostinho em termos de citações e divulgação. Por tudo isso, vale a pena revisitar a riquíssima personalidade do abade de Claraval e descobrir nele não apenas o grande vulto da história da Igreja e o célebre autor espiritual mas principalmente o homem subjacente a essas duas dimensões de sua vida, com suas lições de uma santidade profundamente cristã. Bernardo impôs-se a seus contemporâneos como portador da graça e da presença de Deus em um tempo conturbado. Não se impôs a si mesmo. Agiu sempre em função de valores bem determinados, os valores cristãos e do Evangelho. É este Bernardo que pode e deve ainda hoje falar-nos.