“Tendências díspares atravessaram os séculos e se travou uma batalha entre duas posições contrárias no que diz respeito à democracia: de um lado tivemos os socialistas, que pressupuseram que a justiça social carecia mais de um poder capaz de assegurá-la que de uma lei que a justificasse; do outro lado tivemos os teóricos mais afeitos às conquistas sólidas, mas graduais, resultado de um processo ainda em construção. Dentro desse paradigma em que se contrapõem, de um lado, um fluxo de ideias retroativas que propõe a aniquilação do que já foi conquistado em nome de uma conquista futura e, de outro, um fluxo de ideias que pretende aperfeiçoar as conquistas a fim de obter o máximo da qualidade do que já foi constituído, pessoas se mobilizam para levar a termo cada um dos dois lados, verificando-se, ainda hoje, a mesma presunção passada de justificar as mais atrozes e perniciosas condutas contrárias ao senso crítico e ético pela simples crença de que assim se chegará a um estágio melhor de justiça social. Fortalece-se com isso uma tendência revolucionária que classifica como parcial e seletiva a democracia que deveria ser destinada a todos.
Ora, como seria possível desvincular o conceito de democracia de uma ideia e postulá-la como uma realidade sem que antes houvesse a justa compreensão do seu valor e do seu significado? Primeiro de tudo, democracia é um governo regido, limitado e questionado pela lei e a lei é o ideal mais próximo daquilo que se pôde conceber como justiça. Como então se poderia, sob o pretexto de se buscar a Justiça, rompê-la e desrespeitá-la como se dá em todo processo de uma falsa emancipação? Pois foi justamente essa a atitude mais famigerada dos regimes socialistas que brutalmente respaldaram atentados contra a humanidade sob a forma de morticínios e de aniquilamento da liberdade individual.”