Era uma vez: ciúmes, raiva, culpa, asas, vida, vaidade, horizontes, goiabadas, Catarinas, Fátimas, Claras, Anas. E quantas mais? Somos todas e outras tantas. Essa casa habitada tem barulho, tem silêncio, tem perdas e muitas histórias. Virginia Woolf dizia que nós mulheres precisávamos de um teto todo nosso para podermos aqui, viver. E escrever. “Pela ideia existo”, Virginia anotava em seus diários, e também a voz que preenche os cômodos desta casa-corpo. Nós, mulheres, escrevemos nossos sextos (Cixous tem razão), textos em-corporados pelas palavras que circulam nossa cintura, pelas sílabas que escapam pelas mãos, pelas páginas e mais páginas que percorrem nossos cabelos, barrigas, pés e sexo(s). Porque o corpo-casa fala, grita, (re)escreve. Quando abrimos a porta dessa casa toda nossa, descobrimos seus (re)cantos: alguns escuros, outros escancarados com suas janelas e cortinas ao vento. Um teto re-des-construído à várias mãos: cada história que se conta, aumenta-se um ponto? Talvez. Para as histórias que se cantam, em vozes polifônicas, afinadas ou não, o importante é a voz: esse contar-se e cantar-se como se. ‘Como se’ é o começo do acreditar. “Posso tomar meu rumo: fazer experiências do meu jeito com minha imaginação”, de novo Virginia nos lembra. Podemos acreditar e ser. Porque nesse teto todo nosso, pode ter silêncio, mas não silenciamento, porque todas as vozes importam, porque cada história conta, porque cada frase (re)cria a(s) nossa(s) realidade(s). Somos muitas. E escrevemos. E continuaremos a escrever. Até que o teto se transforme em mundo. E possamos todas contar nossas verdades sem medo e sem pudor(es). Somos muitas a escrever: em vários gêneros, de várias formas, com muitos sotaques, de tantos lugares, em primeira pessoa (e em tantas outras). Esse teto cresce a cada dia, abrigando e acolhendo nossos muitos livros (os escritos e os adormecidos), com respeito ao tempo e ao espaço de cada uma. Nesse teto todo nosso, abrimos nossas gavetas, nossos armários