Tomem uma família [...] em casa, à noite. Já jantaram, já viram tevê – a típica rotina das casas brasileiras nesse horário. E aí o pai ou a mãe anunciam ao caçula que está na hora de dormir. Não há criança que receba esta notícia sem protestar. Afinal, será afastada do convívio dos pais e dos irmãos; será levada para o quarto de dormir; a luz vai se apagar; a porta vai se fechar. Ficará no escuro, aquele escuro que a imaginação infantil povoa de seres fantásticos, não raro ameaçadores. E por isso reclama, sapateia, chora. Todo pai e toda mãe sabem, contudo, que há um jeito de superar esse problema. Uma frase: ‘Se você for para a cama agora, eu lhe conto uma história’. Não há menino ou menina que resista a este convite. Porque a história significa a presença tranquilizante do pai ou da mãe. E, se eles lerem a história, a criança associará o objeto livro com esta imagem protetora: estará nascendo ali um futuro leitor ou leitora. Nesta deliciosa autobiografia sui generis, Moacyr Scliar – ficcionista, autor de vários clássicos brasileiros e um dos nomes nacionais mais publicados em todo o mundo – abre seu coração e sua vida. Partilha conosco da sua infância aos anos de maturidade, tudo permeado por histórias: as que leu (e que o formaram) e as que escreveu.