Onde a criatividade pode se expandir melhor, em ambientes ordeiros ou em meio ao caos? Para o professor de Administração da Universidade de Columbia Eric Abrahamson e para o jornalista David H.Freedman, autores de Uma bagunça perfeita – Como aproveitar as vantagens da desordem, é longe dos escritórios assépticos e das mesas limpas que surgem as melhores idéias para levar a prosperidade às empresas. O planejamento rigoroso e o excesso de organização podem bloquear a imaginação, afirmam Abrahamson e Freedman, que, no livro, apresentam casos de sucesso de desorganização crônica aliada a bons resultados tanto no campo empresarial quanto no artístico. Uma bagunça perfeita apresenta – de forma clara e ordenada – os diferentes aspectos da desorganização que estressa boa parte das mães e dos chefes em escritórios. Já as mesas cobertas por pilhas de papel, os armários atulhados de objetos que não servem para nada além de recordações saudosistas, as plantas que se espalham por jardins sem qualquer cuidado urbanístico, e até as lutas de vale-tudo (bem menos perigosas para seus participantes do que as de boxe) são alguns dos exemplos positivos apontados pelos autores, que traçam um histórico do culto à organização na sociedade contemporânea, algo que teria raízes culturais milenares - a primeira associação de que arrumar é uma atividade ligada à bondade e à pureza do espírito estaria na Bíblia, que no Gênesis traz Deus com a tarefa primordial de dar alguma ordem ao caos que antecede a criação do universo. A noção generalizada sobre a necessidade da organização surge apenas no fim do século XIX, quando arquivistas e bibliotecários ficam encarregados da catalogação de documentos diversos, à medida que as empresas se tornam mais complexas. Em 1911, surge o primeiro livro sobre o assunto, The Principles of Scientific Management, que estimula o mundo dos negócios a declarar a desorganização um inimigo do progresso. Atualmente existem cerca de 4 mil organizadores profissionais nos Estados Unidos, onde a indústria de produtos para a arrumação de escritórios ou lares – como arquivos sanfonados e processadores domésticos de etiquetas – fechou o ano de 2006 com vendas em torno de U$ 6 bilhões, que deverão ultrapassar U$ 7,6 bilhões em 2009. A Associação Nacional de Organizadores Profissionais americana tem promovido um evento anual, o Get Organized Month (Mês de se Organizar), em janeiro, voltado para empresas de todos os setores. O objetivo é a otimização de espaços e do tempo nas empresas, o que, na verdade, pode vir a gerar novos gastos, pois algumas medidas tomadas exigem a remodelação total de ambientes. Ao lado de exemplos de bagunceiros notórios e bem-sucedidos, como o ator e político Arnold Schwazenegger, que sequer usa uma agenda, e personagens do meio acadêmico, onde a desorganização é notoriamente conhecida, dizem os autores, está uma análise sobre os hábitos de algumas nações. Para Abrahamson e Freedman, na Alemanha, a organização é um traço cultural tão forte que o idioma alemão não tem um termo correspondente a “bagunça”, mas apenas a palavra unordnung, que significa falta de ordem. Esclarecendo que a desordem nem sempre se refere apenas a mentes ocupadas demais para se dedicarem à arrumação dos ambientes, os autores ainda abordam os transtornos causados à saúde pelo excesso de organização ou pelo total desprezo a eles, como as pessoas que têm o hábito de acumular objetos sem qualquer tipo de utilidade, como caixas usadas de leite. Por outro lado, o zelo excessivo com a limpeza pode não apenas provocar crises de bronquites em asmáticos – pela alergia provocada por produtos químicos utilizados para a assepsia, mas embotar a criatividade e padronizar comportamentos, impedindo a reação natural aos imprevistos que surgem no dia-a-dia de empresas e do cotidiano de cada um.