Leonardo Ângelo faz jus ao nome “Ângelo”, aquele que anuncia a mensagem. O mensageiro! A mensagem é estimular os negros e negras a romperem o silêncio e a inviolabilidade da luta contra o racismo, na luta antirracista no âmbito da luta de classe. Como mensageiro, já antecipa o debate sobre o racismo estrutural e institucional, ao dar vida às imagens dos trabalhadores negros e negras do jornal O Lingote (da Companhia Siderúrgica Nacional), mostrando o cotidiano da fábrica, como também seus familiares (visto em outras fontes), e até mesmo o carnaval realizado por agentes populares e o carnaval realizado pelos clubes oficiais da cidade. A ilusão das mães negras no posto de puericultura, no sentimento de igualdade muito distante da realidade da fábrica e da educação, a Escola Técnica Pandiá Calógeras que, teoricamente, formava atendendo à demanda da empresa e do estado e que acabava por determinar a lógica dos que iriam receber ordens. Assim, de uma análise em que a fábrica representava uma visão do estado naquele momento histórico, ele parte das fotos para o periódico da empresa (Capítulo II) e neste demonstra o quanto das histórias de sucesso apresentadas pelo periódico e das estruturas de poder estavam permeadas por uma lógica racializada (representativa só para aquela época?) que “limitava o sucesso” para todos. Do periódico, Leonardo vai para a “carne negra” (Capítulo III), pois, por meio de entrevistas, evidenciou a dinâmica dos movimentos das negras e negros, dos movimentos negros pela cidade. É como um “chá revelação” da raça na formação da classe, uma forma de olhar original, reveladora e denunciante de uma “democracia racial” à brasileira que sempre segregou, mas se camu-ou na dinâmica de classe. Até quando ser pobre e ser negro era e é sinônimo que camu a a estrutura racializada? Professora Adelaide Maria Afonso Máximo. Ex-presidenta do Conselho de Igualdade Racial de Volta Redonda e vice-presidenta do Movimento de Conscientização Negra de Volta Redonda.