Porto-alegrense radicado em São Paulo há quase uma década, Leandro Sarmatz é jornalista e Mestre em Letras. Depois de já ter integrado antologias coletivas, seu primeiro livro de poesias, Logocausto, lançado em 2009, foi recebido pela crítica com elogios. Agora Leandro faz sua estréia na prosa com o livro de contos UMA FOME, uma obra madura e segura, que traz relatos em que o autor enfoca, entre outros temas, a vida de judeus durante a Segunda Guerra, assim como de seus descendentes.Neto de imigrantes judeus do leste europeu que se estabeleceram no Sul do Brasil no finalzinho da década de 20, o autor conta que a cultura judaica sempre foi uma presença importante em sua formação. A mesma cultura que impregnou autores tão diferentes entre si como Kafka e Bashevis Singer, Philip Roth e Aaron Appelfeld, que fazem parte de sua formação de leitor.Dono de “uma sabedoria artística raríssima entre escritores jovens” e de “estilo sóbrio, mas jamais de mera transparência”, como declara o escritor João Gilberto Noll no texto de orelha do livro, Leandro oscila entre o humor sutil, refinado, quase cerebral e uma indissolúvel melancolia. São 11 contos, estruturados em duas partes: “Atores” e “Abandonos”, esta última a mais encorpada, que reúne oito textos que tratam justamente de algum tipo de desalento muito particular. Ou os personagens são abandonados (por alguém, pelo talento, pelo entusiasmo), ou abandonam (alguém, algum ideal, algum lugar).Alguns personagens são atores, um deles encarnando a figura de Hitler em filme rodado nas selvas brasileiras. Fora do set, trata-se de mais um autista embriagado. Para outro personagem, depois de presenciar os horrores da brutalidade no trânsito paulistano, resta “o chamado da escrita”. Para as crianças, diante dos mais velhos, a solução é abrir obras que “julgam ser de leitura adulta”.Holocausto, ditaduras militares e o destino de doentes desacreditados são alguns dos temas abordados pelo autor. O sofrimento, no entanto, não vira fardo para o leitor, graças à força da linguagem de Leandro, que reabastece de vida e permanência o conto brasileiro.