Em 1969, Michel Foucault proferiu a conferência “O que é um autor?”,segundo a qual a função-autor é concebida como uma maneira de organizar o discurso, uma especificação da função-sujeito e um complexo mecanismo de poder. Seguindo essa via e procurando levar adiante um projeto de pesquisa apenas delineado por Foucault, este livro persegue dois objetivos principais: discutir a questão teórico-conceitual da autoria e oferecer um estudo de natureza histórico--filosófica sobre a emergência do autor moderno. Após traçar uma estratégia de investigação genealógica, o volume analisa discursos e práticas que tiveram lugar entre os séculos XIV e XVIII,ressaltando como o autor ganhou autoridade, assumiu responsabilidades e tornou-se proprietário de sua obra.Diversos elementos são abordados neste estudo crítico-genealógico, incluindo as técnicas de produção do livro, a herança da antiga auctoritas, as práticas autográficas de escrita, as técnicas bibliográficas, a censura aliada aos privilégios reais (tática em defesa da Igreja, do soberano e do monopólio corporativo, contra a heresia, as edição e a pirataria), os mecanismos de produção intelectual (do mecenato ao mercado cultural), o crescimento do negócio livreiro, a emergência da figura moderna do editor, as práticas pedagógicas, o pensamento econômico de viés liberal, as construções jurídicas (os modernos copyright e droitd’auteur), a valorização estética da originalidade e da genialidade, a crítica literária biografista, a elevação social da figura do autor como herói nacional e as novas estratégias comerciais e publicitárias (o autor como marca).Uma genealogia do autor nasceu de uma pesquisa de doutorado realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (PPG-FIL/UFMG), que recebeu o Prêmio UFMG de Teses e Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese (edição 2015) na área de Filosofia/Teologia.