O livro Uma Itália machadiana: memórias de um cronista e de uma época abre as portas do século de XIX com objetivo de transportar o leitor para um Rio de Janeiro oitocentesco coberto pela presença pulsante da cultura italiana em suas ruas, jornais, palcos e Corte. Depois de se sentir à vontade nesse ambiente, o leitor é convidado a acompanhar a transposição da cultura italiana na cidade carioca para a pena do cronista Machado de Assis, por exemplo, por meio da presença da ópera e de seus cantores. Vale dizer que a crônica é fotografia da cidade ou, talvez, mais que isso, porque, diferentemente de uma fotografia, a crônica não é estática. A crônica é a cidade. Uma cidade com todos os seus movimentos, sua oralidade, suas memórias, suas diferenças, seus diálogos, seus barulhos, seus incômodos, seu povo, seu canto, suas dores e suas vozes. Portanto, as cidades machadianas apresentadas neste livro são como fragmentos italianos, vistos e revividos pelo olhar e pela memória de um escritor que soube encaixar essas partes italianas em sua prosa cotidiana, imbricando tão profundamente, sem sobreposições, numa costura fina, exercendo, assim, um importante diálogo entre Brasil e Itália. Por fim, mas da mesma forma entrelaçada nas tramas bem costuradas desse diálogo, podemos acompanhar a viagem de Machado de Assis à Itália, ou seja, à sua Itália literária, a viagem inversa daquela que abre as linhas deste livro, novamente sem retirar os pés da sua cidade carioca.