Macbeth, célebre peça de William Shakespeare do início do século 17, narra a história de um regicídio cometido pelo personagem que lhe dá nome, ao ser persuadido por três feiticeiras de que seu destino seria tornar-se rei. É esse, também, o enredo que forma a linha principal Macbett, releitura que Eugène Ionesco faz da obra shakespeariana. Escrita mais de três séculos depois, esta não poderia deixar de trazer indícios dos novos tempos. O tema do assassinato, por exemplo, ganha nova escala, dando lugar aos homicídios em massa - o que era familiar àqueles que presenciaram o horror da Segunda Guerra Mundial ou viveram sob regimes totalitários. O soberano Duncan, bem como os demais personagens de Macbett, é movido pelo fetiche do poder, alcançado através dos consequentes massacres em massa que perpetuam. Na peça de Ionesco, a violência não se encerra em si mesma; pelo contrário, ela se expande e ultrapassa o palco ao encontrar ressonâncias com o contexto de escrita do autor. De um total de 39 textos teatrais, Macbett, seu 36º texto, caminha ao lado das demais peças de Ionesco, rotuladas por ele próprio como “antiteatro”, uma expressão evidente de suas críticas à dramaturgia convencional, aproximando-se do que se convencionou, a partir de Martin Esslin, como Teatro do Absurdo. O tema da linguagem como impossibilidade está no cerne deste texto, que compartilha espaço com um aspecto fundamental da poética de Ionesco: a representação do vazio no palco, que ele descreve como uma “máquina de esmiuçar o vazio”.