Formou-se um cenário de filme de caubói. A posição em que se encontrava Zé Otávio bloqueava a única saída existente. Todos os presentes se espremeram contra as paredes laterais, deixando frente a frente, um mirando o outro, os dois inimigos. Horrorizados, todos se anteviram testemunhas de um duplo fratricídio. Àquela distância nenhum dos dois erraria o tiro. Fez-se um silêncio quase absoluto. Só se ouvia a respiração ofegante dos circunstantes. Os irmãos, estáticos, braços estendidos, apontavam as armas prontas para o disparo fatal. Assim permaneceram por infindáveis segundos, como se estivessem querendo aumentar a agonia do antagonista e da platéia. De repente começaram ambos a suar copiosamente. O suor descia pelas faces e pingava, gota a gota, pelos queixos. À sudorese sucederam-se violentos tremores das mãos que sustentavam as armas. Tremores que acabaram sacudindo os corpos até então imóveis. As duas armas foram ao chão. De repente, muito de repente, ouviu-se, partindo dos dois, um ruído que todos identificaram como o prenúncio do mau cheiro que logo depois empesteou todo o ambiente. A cueca de Tavinho, de malha, reteve o malcheiroso excretado, mas a cueca de Zé Otávio, samba-canção, deixou passar os fétidos excrementos, escorrendo perna abaixo, sujando o chão do vestiário dos campeões. Como bons univitelinos, os irmãos haviam feito tudo
harmoniosamente a mesma sudorese, a mesma tremedeira, o mesmo ruído, o mesmo mau cheiro. - Trecho do conto 'Os
Gêmeos'