Maria Firmino dos Reis (1822-1917), negra e filha ilegítima, não conheceu o pai, e se mudou de São Luís para Guimarães no Maranhão ainda com cinco anos de idade, quando passou a morar com a avó. Foi professora primária aos 25 anos, tornando-se a primeira mulher a conquistar o cargo em toda a província, e a primeira romancista brasileira. Firmina conheceu obras literárias, mas, como não há registros de sua inclusão na educação formal, acredita-se que foi autodidata. Úrsula (1859), é um romance que se destaca no contexto do século XIX por trazer a perspectiva dos negros sobre a escravidão, ainda que inseridos como personagens secundários num romance do tipo folhetim típico da estética romântica, onde os escravos projetam uma voz social legitimada pela primeira escritora negra brasileira. De forma inédita para a época, os personagens negros ganham profundidade e contornos que diferencia sua obra das representações baseadas no racismo de origem europeia, onde Mãe Suzana relata, em primeira pessoa, a crueldade sofrida por ela em sua captura e escravização na África, e como durante esse processo em condições desumanas, foi separada de sua família e de seu local de origem ao ser transportada em um navio negreiro com destino ao Brasil. Da mesma forma, somos apresentados a Túlio, que, ainda sofrendo as brutalidades em sua condição de escravizado, mantém sua sensibilidade, tornando-se um dos modelos de virtude do romance.