Em uma época em que o estudo da História — não somente aquele feito por historiadores profissionais — torna-se cada vez mais popular e relevante nos debates públicos, a premiada historiadora canadense Margaret MacMillan nos mostra como sua utilização pode se revelar uma faca de dois gumes. Na década de 1980, o passado parecia muito mais simples do que é hoje. A Guerra Fria foi, entre outras coisas, uma pausa entre duas filosofias rivais da História que serviu para manter o mundo nos trilhos. Então, com a queda do Muro de Berlim, veio o arrefecimento. De forma sinistra, narrativas pouco lembradas, identidades há muito esquecidas e ódios veneráveis emergiram. Uma região após outra descobriu que o povo, como Churchill uma vez dissera sobre as tribos dos Bálcãs, tinha mais história do que podia consumir. Neste brilhante ensaio, fruto de uma série de palestras conduzidas pela autora na University of Western Ontario, MacMillan examina os valores e perigos da História, e como ela afeta nossas vidas. Ao mesmo tempo em que é extremamente útil quando usada com propriedade, visando ao entendimento do modo como pensamos e reagimos, a História como forma de compreender o mundo é suscetível a manipulação e distorção, para atender a diferentes propósitos. Os nacionalistas contam histórias falsas ou unilaterias sobre o passado, enquanto os ditadores omitem as que ameaçam suas pretensões de onisciência e autoridade. Os líderes políticos arregimentam seus públicos contando-lhes bravatas: Hitler mentiu sobre a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e sobre o papel dos judeus. Tirar lições do passado pode também se tornar problemático — pois elas oferecem interpretações que podem servir a muitos fins. Margaret MacMillan preocupa-se com a possibilidade de a profissão de historiador estar se voltando para dentro de si mesma, abandonando as grandes questões num momento em que há urgência em aumentar nosso conhecimento sobre o passado, e prova que a História pode se transformar em uma perigosa arma dependendo de quem a use. USOS E ABUSOS DA HISTÓRIA é um argumento vital e poderoso sobre a importância da História e dos historiadores.