Nada há de habitual na profundidade com que Alexandra desbrava o território continental do Brasil, do Oiapoque ao Chuí, como se diz por aqui, ou ao menos de Porto Alegre a Manaus; nem na disposição intelectual com que encara nossos grandes teóricos, escritores e poetas; nem tampouco na sua entrega de corpo e alma aos ritos, práticas e festas brasileiros. É ainda mais notável o seu método: do desfile em uma escola de samba ao transe coletivo de um terreiro de umbanda, do funk no Buraco Quente ao pato ao tucupi, Alexandra aborda tudo com espírito e sentidos abertos, sem preconceitos de qualquer natureza. A esse método de conhecimento, podemos chamar de amoroso, como o fez Nietzsche. —Francisco Bosco, Prefácio "Português a falar brasileiro não tem jeito, mesmo quando tem. Mas o que não tem jeito mesmo é perder tempo a não ser entendido. Não vou subir a favela e dizer sítio quando posso dizer lugar, ou apelido quando posso dizer sobrenome, ou alcunha quando posso dizer apelido, ou apanhar o autocarro quando posso pegar o ônibus. Português a falar brasileiro nem é jeito de dizer, porque português e brasileiro falam sempre português, em toda a sua mestiça extensão. Nenhuma outra língua é tão falada no hemisfério sul. Finco os pés onde estou para a usar. Se não me esqueço de quem sou, porque terei medo do que serei? Muito do que hoje é brasileiro foi português antigo que Portugal perdeu, cardápio reduzido, falta de apetite. E eles continuam a vir, dietistas, higienistas, fiscais de contas, reduzindo a língua a um quartinho, e de colarinho: não respire, não respire. Ave a poesia, cheia de fome, Herberto Helder mais jovem que nunca, comendo a língua com travesti brasileiro e tudo." — ALC