“Que noite mais funda Kalunga, no porão de um navio negreiro / Que viagem mais longa Candonga ouvindo o batuque das ondas / Compasso de um coração de pássaro no fundo do cativeiro / É o samba do mundo Kalunga, batendo forte em meu peito”. Com esses versos tirados de Yaya Massemba, dos compositores Roberto Mendes e Capinam, eu descrevo a viagem que o samba fez até aportar nas terras de Vera Cruz, trazido pelo escravizador e pelo escravizado. Da mistura do lamento do tambor do negro, com a melancolia do fado português e o balanço malemolente do mar surgiu o nosso samba, produto genuinamente brasileiro, que ao longo do tempo foi sendo moldado por habilidosos artífices até chegar ao formato atual, rompendo barreiras sociais, misturando raça, misturando cor. Ele que já foi o rei dos terreiros, hoje em dia já conseguiu penetrar no Municipal, depois percorrer todo universo, como bem disse Cartola. O samba também é trincheira contra a opressão, é grito contra a intolerância e como diz o samba da Mangueira 2019, na luta é que a gente se encontra... Mas o samba é muito mais do que se possa definir, é ajuntamento, estilo de vida, nasce de um carinho e mora no coração, pulsa em tudo que existe, vaza de todo o sangue que escorre e renasce de tudo que morre... -Chico Alves Sambista capixaba