Autodefinindo-se como um artista louco, devasso, dadaísta, anarquista, mas, no fundo, altruísta e lírico – portanto, “tudo ao mesmo tempo agora”, como cantam os Titãs, que integram o variado paideuma do poeta curitibano –, Daniel D’Avila estreou na poesia brasileira em 2023, com o seu Canteiro de obras, sob as bênçãos do poeta maior Jaime Vieira. Já nesse primeiro livro, Daniel disse ao que veio: autor de uma prosa caótica, iconoclasta e criativa, e de poemas que refletem, a seu modo, artistas e intelectuais tão diversos, a exemplo de Aristóteles, Bocage, James Joyce, Thomas Mann, Ernest Hemingway, Jack Kerouac, além de cineastas do porte de Ingmar Bergman, Federico Fellini e Carlos Reichenbach (o nosso querido “Carlão”, ícone do Cinema Marginal brasileiro), e de artistas/poetas/escritores nacionais, verdadeiros mestres da nossa cultura, como Augusto dos Anjos, Drummond, Quintana, Ana Cristina Cesar e Nelson Rodrigues, mas, sobretudo, Paulo Leminski e Raul Seixas. Agora Daniel D’Avila volta ao cenário literário – mais uma vez, sob as bênçãos do autor de Asas, seu mentor nominado e admirado –, com este Vate!, ampliando o seu repertório pessoal e englobando nomes novamente díspares, como os filósofos Martin Heidegger e Byung-Chul Han, ao lado de Aulo Pérsio Flaco, Jesus Cristo, Dante Alighieri, Cervantes, Nietzsche, Florbela Espanca, Rimbaud, Cazuza e Jorge Mautner. Em poemas curtos e longos, Daniel desenvolve sua escrita, “construindo versos rubros de tão nulos!/ Cada qual mais sujo que o outro!”, seguindo de perto a trilha bandeiriana (v. “Nova poética”) e gullariana (v. Poema sujo). Afinal, como nos diz Daniel D’Avila, “Angústia é a própria liberdade”. Liberdade esta que o torna um amador de sua própria morte, a ponto de elaborar seu obituário num dos melhores poemas deste livro, justificando plenamente o que ele já dissera em sua obra anterior:
“Eu não tenho mais vergonha de nada, a não ser de não ser eu”. Ricardo Vieira Lima - Doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ, crítico literário, ensaísta e poeta..