Tudo começou por um paradoxo. Após um doutorado dedicado às lógicas gregas, eu traduzi Frege e me iniciei nas lógicas matemáticas: para constatar que, de umas às outras, não havia continuidade. Entre os filósofos, uns estigmatizam uma crise das ciências, os outros censuravam aos primeiros ignorância e denegação. Eu insisti em manter como frutuosa essa diferença e duvidar da dedução kantiana da experiência. Uma lógica não era um dado inicial e sim um produto último e específico. Mas, o que em seguida? A esse paradoxo, Merleau-Ponty abriria uma saída. Para ele, as lógicas não estavam em causa, ele desloca a questão de nossas maneiras de aceder ao real, levanta a obsolescência das palavras antigas e a impossibilidade de ali implementar palavras novas. Restava a explorar “esse mundo pelo qual nos comunicamos”, deixando para a ciência o cuidado de gerar sua própria aventura. Ao renunciar ao modo perceptivo, sombra carregada do criticismo, ele sublinha como a cor estruturava o quadro de Cézanne, sob o modo das «pequenas sensações», como a escultura de Giacometi fazia ver os esquemas coreográficos do corpo. Assim, anunciava um outro exercício do olhar e uma performance corporal do cotidiano. As artes lhe forçaram a inconsciência, os filósofos ali descobriram uma maneira de ser corpo uns com os outros e de tratar os gestos e as emoções como uma matriz de comunicação. Uma outra subjetividade ali se mostrava e se aprendia.
Claude Imbert
École Normale Superièure, Paris