"Abrimos o livro e é a poesia. Palavras que se alinham com excessivo silêncio. Estão ali, uma a uma, impregnadas no papel, imobilizadas, grafadas com os sinais elementares com que se representam e oferecendo aos olhos a incerteza daquilo que escondem. Palavras ajustadas às conveniências de uma aventura. Todas respondendo às tensões secretas de um viajante decidido a mostrar seus caminhos no mundo, a não deixar para trás o espetáculo da vida. Esse viajante exprime-se a partir de um veículo de transporte coletivo, entre embarques e desembarques, quando vai acumulando, em sequência célere, mil visões fragmentárias que não pertencem a um só momento ou a um só lugar. São paisagens, pessoas, ruídos, casualidades e resíduos de um cotidiano deixando marcas em sua interioridade. Nesse sentido, basta lembrar Jorge Luis Borges asseverando: “O mundo aparente é um tropel de percepções embaralhadas. (.) A linguagem é um ordenamento eficaz dessa enigmática abundância do mundo”. É assim, página a página, o Passageiro interior de Juliano Moreno, cativo de um itinerário essencialmente urbano e de um repertório fortuito disponível a cada percurso. Importa enfatizar que esse repertório casual jamais lhe será estéril; antes, reserva-se como matéria-prima". Lucinda Persona (Escritora, poeta, bióloga, professora, membro da Academia Matogrossense de Letras).