As viagens são foco de interesse dos seres humanos, mas também são marcadas pelas contingências particulares de uma época. Assim, um dos objetivos deste trabalho é analisar como as viagens se deram no século XIX, levando-se em conta o incremento dos meios de transporte, o desenvolvimento do turismo, as múltiplas possibilidades abertas nas formas de se hospedar, os contatos com cicerones e as cartas de apresentação. Além disto, os olhares para o mundo visitado constituem parte fundamental da empreitada. Este livro, portanto, também se atém às representações criadas sobre os lugares conhecidos, revelando os estranhamentos, as empatias, as projeções e as rejeições dos viajantes. Com isso, pretende-se agregar dois campos que costumam andar separados nas análises: as condições concretas, de um lado, e a dimensão do discurso, de outro. A pesquisa enfocou relatos de personagens oriundos de países da América Latina que rumaram para a Europa e os Estados Unidos no século XIX. Em momento de formação dos Estados nacionais latino-americanos, estas viagens representaram uma busca de referências e os contatos estabelecidos dão a conhecer facetas do intrigante processo de afirmação das identidades nacionais e subcontinentais. O tema das identidades ainda perpassa as questões de gênero, uma vez que foram incorporados à análise relatos escritos por viajantes mulheres. Todas estas questões foram originalmente desenvolvidas na Tese de Livre- -Docência defendida pela autora em 2017, na Universidade de São Paulo, que agora é apresentada em livro.