Aquele que é hoje considerado o grande helenista da Universidade de Brasília, ou o maior helenista brasileiro do século XX, ou, simplesmente, o mitólogo brasileiro, Eudoro de Sousa é, de facto, um filósofo. O seu percurso de vida, pessoal e académico, não foi linear e coerente com o que a figura do professor de Filosofia ou do académico de carreira comummente ilustram. O seu caráter, mais impertinente do que afetuoso, isto é, forte nas convicções e recatado nas emoções, foi fonte, muitas vezes, de conflitos fundados em incompreensões que suscitaram mudanças bruscas de ambiências pessoais, bem como especulativas, e que podem justificar a errância entre lugares e momentos da sua vida. O seu percurso de vida se deveu mais ao acaso das oportunidades e das circunstâncias do que a um trajeto planificado. No entanto, não deixa de ser verdade que cada momento e que cada lugar de vida foi intensamente absorvido, assimilado e decisivo para a construção da obra que o filósofo nos legou. Na atenção que prestámos ao percurso que Eudoro de Sousa trilhou no Brasil, em particular a partir de 1962, na Universidade de Brasília, constatamos que foi grande a marca que ele deixou nessa instituição de ensino, logo a partir da sua criação, juntamente com Agostinho da Silva. O Centro de Estudos Clássicos (CEC) que lá fundou e dirigiu foi não somente o maior polo de difusão e ensino dos Estudos Clássicos em toda a América Latina nas décadas de 1960 e 1970, como foi também instituição de fascínio e veneração com que os seus discípulos a ele se referem, procurando não deixar morrer a sua memória e enaltecendo as suas qualidades científicas, pedagógicas e humanas.