livro busca compreender como se dão as experiências sociais de criminalização das travestis, como grupo subalternizado, em relação ao duplo “crime/castigo”; quer dizer, suas experiências no chamado “mundo do crime” e a sociabilidade violenta a que estão submetidas e que as faz mais facilmente detidas pela polícia, bem como suas capturas pelas instituições de privação da liberdade. A intenção é compreender como esses marcadores funcionam para produzir a própria prisão e o sujeito preso, isto é, como contribuem para a constituição institucional e social do crime enquanto um processo social e de sujeitos e categorias de sujeitos aprisionáveis, por meio de processos de incriminação, criminalização, sujeição e seleção. Defende-se a tese de que esses marcadores sociais explicitam e especializam o processo de subalternização de determinadas classes e grupos, expresso não apenas pela dimensão da violência, da humilhação, da perda de direitos e de toda sorte de privações, como também pela dimensão da desobediência, do deboche, da luta e da resistência. A partir das narrativas de vida recolhidas sobre os significados produzidos pelas entrevistadas a respeito de noções como identidade de gênero, pobreza, trabalho sexual e crime, pôde-se perceber que existe um vasto campo de significações desde a enunciação da palavra “travesti” que conectam essa identidade à subalternização e à violência, constituindo aquilo que passa a ser entendido como vida precária – cujas mortes não merecem ser choradas pelo conjunto da sociedade e cuja qualidade vale menos no processo de produção e reprodução social. Já na perspectiva dos estudos críticos na área do serviço social sobre a categoria da subalternidade, constatou-se que a realidade de vida das travestis expressa a contraprova histórica desta tese, marcada pelo contrapelo que é ao mesmo tempo viver o conformismo e a resistência. Sobre o autor: Guilherme Gomes Ferreira é bacharel e mestre em serviço social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Doutor em serviço social pela PUCRS e pelo Instituto Universitário de Lisboa. É assistente social residente do Grupo Hospitalar Conceição e ativista na ONG Somos - Comunicação, Saúde e Sexualidade. É também parecerista ad hoc da Revista Serviço Social & Sociedade e autor dos livros "Travestis e prisões: experiência social e mecanismos particulares de encarceramento no Brasil" (Multideia, 2015) e "Diversidade sexual e de gênero e o serviço social sociojurídico" (Cortez, 2018). Opinião "Trata-se de trabalho de grande relevância científica e social. Aborda temática acerca de população necrobiopoliticamente demarcada pelo Estado, trazendo a dimensão das experiências sociais de criminalização das travestis, como grupo subalternizado, em relação ao duplo “crime/castigo”, e retrata suas experiências no chamado “mundo do crime” e a sociabilidade violenta a que estão submetidas e que as faz mais facilmente serem detidas pela polícia. É um trabalho com boa fundamentação teórica, bem escrito, provocativo, metodologicamente bem definido e com resultados interessantes que podem subsidiar não apenas a formulação de políticas públicas para a população travesti e trans, mas reorientar pressupostos teóricos nos campos das Ciências Socioculturais, da Saúde, do Direito e dos Direitos Humanos". Dra. Fran Demétrio - UFRB