Maquinalmente, sem nenhuma razão precisa, acrescento algumas linhas à minha carta, para comunicar-lhe uma idéia que me veio ao espírito. Não somente comecei a desenhar bem tarde, relativamente, mas, além disso, também não estou seguro de viver ainda muitos anos. Se calcular com sangue-frio, se me arriscar a fazer uma estimativa, uma espécie de orçamento, e se me propuser a refletir sobre isso, chegarei à conclusão lógica de que não sou absolutamente capaz de prever o que quer que seja nessa matéria [...]. Logo, minha obra constitui meu único objetivo - se eu concentrar todos meus esforços nesse pensamento, tudo o que fizer, ou não, se tornará simples, e fácil, na medida em que minha vida não será semelhante a um caos e em que todos os meus atos tenderão para esse fim [...]. É preciso que eu realize alguma coisa de válido em poucos anos, esse pensamento me guia quando faço projetos em relação à minha obra. A simplicidade com que Van Gogh expõe seus propósitos em meio ao tumulto de seu modo de viver é apenas um dos parâmetros para desbravar o universo pluridimensional da obra pictórica deste gênio da arte que deu existência a uma verdadeira galáxia de sentidos para os seus futuros receptores. Uma autêntica noite estrelada pela qual Jorge Coli, com sua aguda e refinada sensibilidade crítica e conhecimento, nos guia, fazendo-nos entrever as insondáveis e sempre novas revelações das latitudes do homem.