Ramon Mello desenvolve, como jornalista, um trabalho de cartografia de sua geração: entrevistas escritas e gravadas registram o que pensam os novíssimos autores da literatura brasileira. Trata-se de um trabalho que representará, no futuro, um importante documento, que permitirá uma leitura mais ampla sobre a literatura do início do século XXI. Ao lado das obras propriamente ditas, as entrevistas sempre foram um instrumento revelador das tendências que os artistas seguem, dos seus interesses e objetivos. Fruto também de sua experiência como jornalista, Ramon Mello agora publica Vinis mofados, seu primeiro livro de poemas. O título revela o diálogo com uma das obras mais estimadas por seus contemporâneos, 'Morangos mofados', de Caio Fernando Abreu, que, entre outros aspectos, deixou como legado, desde os anos 1990, o amor pela música popular brasileira. Legado que foi muito bem absorvido por poetas como Augusto Guimaraens Cavalcanti, Bruna Beber e, agora, Ramon Mello. Em 'Vinis mofados' encontramos uma série de características típicas da Geração 00, a que pertence Ramon, embora estejam desenvolvidas sob uma linguagem própria, que toma da música popular o sentimentalismo das relações amorosas, mas encoberto de humor e ironia. Com versos preponderantemente curtos, que “fotografam” cenas do cotidiano afetivo, Vinis mofados trabalha o humor e a ironia como vias de acesso à profundidade dos sentimentos, distanciando-se, contudo, de qualquer possibilidade de abraçar o “peso” como quem abraça o sustentáculo de sua poesia. Ao contrário, Ramon Mello explora o verso simples, mas não fácil. E a simplicidade reúne-se muito bem ao flerte com a música popular brasileira e ao registro do cotidiano afetivo e urbano de seu livro de estreia.