O Brasil é constantemente apontado por órgãos internacionais como um dos países que mais mata transexuais em todo o mundo. São dados e indicadores extremamente preocupantes, que levam o país a ocupar as primeiras posições no ranking mundial de LGBTfobia. Em meio a esse contexto e a partir da necessidade de reflexões e ações ainda maiores em prol da segurança dessa população, a Editora Fiocruz lança Violência e Saúde na Vida de Pessoas LGBTI. Integrante da coleção Temas em Saúde, a obra estará disponível para aquisição a partir de 27 de outubro, nos formatos impresso – via Livraria Virtual da Editora – e digital, por meio da plataforma SciELO Livros. Escrito por Mario Felipe de Lima Carvalho e Moisés Santos de Menezes, o título investiga e analisa os efeitos da violência contra pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexo) e quais são os efeitos disso no processo saúde-doença. Ao longo do livro, os autores pensam e refletem sobre a violência contra esses grupos como uma desigualdade social em saúde. Eles se debruçam também, a partir de conceitos de estudos de gênero e sexualidade, sobre dados que mostram o Brasil como um país violento em relação à população LGBTI e como essas ações, em todas as suas dimensões e complexidades, afetam a saúde desses sujeitos. O psicólogo Mario Felipe destaca que esse tema se confunde com a própria gênese de movimentos e reivindicações sociais em diversas partes do mundo. "A violência contra pessoas LGBTI é uma questão que acompanha o próprio surgimento dos movimentos sociais. Os primeiros protestos e manifestações de rua, tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos, foram justamente contra a violência policial. E nós sabemos que a violência não é só o assassinato brutal. Ela se processa de diferentes formas, sutis ou mais agressivas", afirma o autor. Logo na apresentação, os pesquisadores contam um pouco da história do ato que, em 28 de junho de 1969, deu origem ao Dia Internacional do Orgulho LGBTI: a famosa Revolta de Stonewall, em Nova York (EUA). Eles lembram também dos primeiros protestos no Brasil, na São Paulo do ano de 1980. "O berço da bandeira do arco-íris não só é marcado pelo sangue da violência, como também por diversas desigualdades sociais de gênero, raça e classe. A impossibilidade da vivência pública de corpos e amores dissidentes das normas heterossexuais e cisgêneras marca a clandestinidade, a semilegalidade, enfim a precariedade das vidas de LGBTI. Aconteceu lá e, também, aconteceu aqui", ressaltam Carvalho e Menezes. Os autores constroem os quatro capítulos a partir de uma série de questionamentos e de reflexões em meio a um cenário de profundas desigualdades. Algumas dessas perguntas são: a violência contra LGBTI se configura como uma desigualdade social na saúde? Como essa violência tem comprometido a saúde desses sujeitos? Quais os principais desafios vivenciados pela população LGBTI nos serviços de saúde? Qual a responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) no enfrentamento da violência LGBTIfóbica? Indo além das preocupações e reações causadas pela epidemia de HIV/Aids, que explodiu no mundo em meados da década de 1980, o título investiga os muitos efeitos da violência sobre esses indivíduos. "Várias pesquisas apontam que a violência, física ou psicológica, provoca na vida da população LGBTI inúmeras consequências negativas, que podem ser pontuais ou de longa duração. Essa violência alcança, muitas vezes, patamares irreversíveis, como nos casos de assassinatos e suicídios", destacam. As tecnologias a serviço do combate à violência contra a população LGBTI.No primeiro capítulo, Mario Felipe e Moisés mostram alguns conceitos introdutórios do campo de estudos de gênero e sexualidade, ajudando a compreender as identidades, expressões e formas dissidentes de gênero e sexualidade expressas na sigla LGBTI. Essa parte se dedica ainda a debates de questões sobre preconceito, discriminação e diferentes formas de nomeação da violência. Em seguida, no capítulo dois, eles se dedicam a uma análise que enfoca a proximidade da relação entre violência e saúde, discutindo os efeitos e as diversas classificações de violência.Depois, no terceiro capítulo, os autores fazem um panorama sobre esse quadro de violência, partindo de dados construídos por algumas organizações não governamentais (ONGs), além de dados oficiais e epidemiológicos. No último capítulo, são analisadas as construções de políticas públicas - com destaque para as áreas de saúde e segurança pública - para o enfrentamento à violência, marcando a importância da intersetorialidade nas respostas governamentais.Por fim, os autores se concentram, nas considerações finais, nos processos de notificação compulsória de violência, refletindo sobre o desafio da construção de tecnologias leves de promoção da saúde. Os pesquisadores revelam que essas tecnologias, apesar de simples, vêm sendo precarizadas, segundo algumas produções epidemiológicas. Isso leva a situações em