Percebo que o residente de Medicina é um mágico. Ele transforma a pequena bolsa de estudos em uma grande bagagem de clássico e de inovação. O manuseio da inovação é cercado por grande vibração, já o do clássico não costuma considerar o que poderá ter ocorrido com os pioneiros. Em consequência disso, antigos “berçários” das ideias úteis, que podem servir deguias para futuras realizações, não resultam em seus pertences. A falta será percebidaquando a beira do leito dos pacientes sussurrar-lhe que nada surgiu pronto, que acertidão de nascimento foi substituída pelo aval continuado da sucessão de gerações. É momento em que o jovem médico compreenderá que deixou de fora um saber que compromete a sabedoria. E porque não há tempo disponível para o jovem subir as inúmeras montanhas do passado, que algumas delas se fragmentem e venham a ele, selecionadas pela afinidade com o presente de fato vivenciado. Isso aconteceu com o doutor Hershl Monteverde. Residente do Hospital Brasileiro Luiz Décourt, ele havia sido presenteado na formatura com um anel de esmeralda, um notebook e uma estrela de David de ouro; pelo valor e pela utilidade, viu-se um recém-formado de sorte. O jovem médico não sabia, contudo, o real significado do que imaginou como sorte. Visitas para um jovem médico conta viagens fabulosas de Hershl ao passado, apropriadas para presenciar origens de métodos clássicos, para dialogar com quem os desenvolveu e para provocar reflexões, sem a necessidade de se ausentar dasatividades cotidianas na residência médica. O leitor que embarcar no notebook do doutor Hershl sentir-se-á seu companheiro de anel de esmeralda e, ao se identificar com o comportamento da estrela de David, poderá ampliar horizontes do cotidiano pelo encantamento do passado.