VISTA PARA O PRECIPÍCIO

Uma reunião de 16 contos em que personagens e situações estão submetidas a condições atordoantes: um casal é revisitado por sonhos que se passam em uma floresta, um garoto investiga o misterioso morador de um apartamento vago, uma mensagem anônima no celular deixa a mulher obcecada e ansiosa, a dona de uma casa com vista para um precipício coleciona corpos embalsamados para seu prazer secreto.
Nos textos do autor, a cidade é palco de desaparecimentos, de encontros e desencontros, de desejos, vaidades, estranhamentos e desigualdades. O desejo, a voracidade e a indiferença caminham de braços dados, em uma dança que perturba e faz pensar, por mostrar como na vida contemporânea estamos imersos em contradições e sentimentos complexos.
Pessoas e lugares se mostram ao mesmo tempo familiares e desconhecidos. E as saídas para os seus labirintos e dilemas nem sempre estão claras. Os passos e os saltos que a vida exige podem levar ao prazer mais livre ou suscitar a queda em um precipício traiçoeiro, que se escondia, irresistível, atrás de uma vista encantadora.
A literatura de Filipe Batista vai além do registro atual de dilemas e distúrbios. Seus textos ultrapassam o mero passatempo, a fruição fácil e as receitas de felicidade. Ao elaborar situações e personagens atuais, com teor muitas vezes sarcástico, outras vezes oníricos, o autor convida a adentrar as paisagens interiores, os meandros da consciência e novas formas de pensar os desafios da vida hoje.
Os textos se passam em grandes cidades, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, e carregam as marcas da vida urbana em seus aspectos mais perturbadores: os riscos do desconhecido, desventuras e desencontros, a voracidade e a indiferença, as ousadias frustradas e as fantasias de grandeza.
Como observa o escritor e editor Bruno Zeni, que assina a orelha: “Nos retratos perturbadores deste livro, pessoas e suas paisagens mentais se encontram em situações desconcertantes, que comportam algo além da etiqueta, da moral, da adequação e da ética. [...] É no limiar do real que a ficção curta do autor encontra terreno. E também abismos, como um espelho que nos pergunta sobre quem somos. É assim que convida a mirar as formas de sobreviver e seguir uma existência mais complexa, contra os limites das correções, das desigualdades e dos protocolos que vivemos muitas vezes sem nos darmos conta.