Num mar poético e erótico de imagens e palavras, Kinha encontra várias formas de plasmar-se. Na tensa vizinhança que a extranjería oferece, a autora desenha sua narrativa de encontros e separações, descobertas e surpresas. No entre-lugar feito de português e espanhol e seus inevitáveis sotaques, podemos descobrir, em “Espetáculo”, a câimbra da bailarina e o sobrepeso do faquir, imagens potentes que surpreendem o leitor, que não espera encontrar um final tão plástico e, simultaneamente, tão drástico, para uma tentativa de sedução. Em “Sobre el insominio, cremas y olores”, sentimos “el olor que sale de la almohada” para constatar que “en la crema antiarrugas ajena está la clave de los portales de la memoria”. Neste libro, pletórico em sensibilidade, junto ao amor e ao sexo descobrimos a estupefação do eu poético com o passado, com o novo e com o duro ser e estar em solidão estrangeira. A graça do jogo de palavras de Kinha expõe o caminho de “uma mulher de mais de trinta”, que já abandonou seus “dois pares de all star azuis” e não veste mais “a velha camiseta de nuvens”, mas continua percorrendo as ruas do México e do mundo nas rodas aceleradas de sua bicicleta colorida.Aspásia Woolf