A tradição literária brasileira ensina que Bilac foi poeta parnasiano. A partir dessa lição construiu-se o preconceito de que sua poesia é puro exibicionismo métrico e vocabular, prato cheio para aqueles que entendem literatura apenas como ornamento social. Outros ainda desconfiam dela, porque suas raízes são pouco verde-amarelas.Muitos, no entanto, ignoram que seus poemas sofreram forte concorrência, quando Bilac aderiu de maneira incansável ao jornalismo, exercendo-o nos mais diversos periódicos cariocas e paulistas durante vinte anos. Foi sobretudo graças à Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro que o poeta trocou de rumo e preferiu a formação da opinião pública em vez de agradar ao público.Nesse jornal de Ferreira de Araújo, que - novidade! - remunerava seus colaboradores, Bilac permanecerá durante muitos anos, assumindo o lugar que um dia fora de Machado de Assis. Como cronista, sua linguagem se transforma aos poucos e envereda cada vez mais pela objetividade e pela concisão. Ajustado, portanto, a essa função que lhe rendia público menos amplo que o livro de poemas, o cronista investe no imediato do seu espaço e faz da cidade o grande assunto de suas preocupações. Pode ser exagerado atribuir a ele a transformação urbana desencadeada no Rio de Janeiro a partir de 1904, sob a administração de Pereira Passos. Mas seria muito injusto, por outro lado, omitir sua parcela de responsabilidade nessa reforma e negar-lhe ainda participação na formação de uma consciência cívica e urbana brasileira.