Durante a guerra, o diário de uma criança pode se tornar uma ferramenta poderosa. Ele funciona como um instantâneo do momento, e registra os acontecimentos da maneira menos enviesada possível, pois ainda não carrega o peso de uma análise feita após os fatos. Basta lembrarmos do diário de Anne Frank, a garota judia que durante três anos se escondeu no porão de uma família holandesa, e do impacto que ele teve no pós-guerra. Da mesma maneira, foi com seu diário que Zlata Filipovic, uma das editoras deste livro, alertou o mundo para os horrores da guerra da Bósnia.
Em Vozes roubadas, Zlata e Challenger resgataram catorze diários de conflitos, todos escritos por crianças ou jovens, da Primeira Guerra Mundial à mais recente invasão do Iraque, passando pelo Vietnã, pela Intifada e por diversos momentos da Segunda Guerra Mundial. É o caso da jovem russa, que ingressa no front em 1940 atrás de um grande amor. Ou do rapaz nipo-americano, colocado com a família num campo de concentração em pleno Estados Unidos, para depois se alistar no Exército americano e ainda assim defender os aliados. Ou da menina de Cingapura, que narra as agruras de sua vida numa prisão japonesa.
Esses diversos pontos de vista compõem um rico mosaico dos conflitos que abalaram o século XX e o XXI. No Oriente Médio, por exemplo, acompanhamos tanto o dia-a-dia de uma garota palestina durante a ocupação como o de uma jovem judia, vivendo sob o pavor dos ataques terroristas. Sem se ater a lados políticos ou visões específicas, Zlata e Challenger dão voz àqueles que a guerra procurou, direta e indiretamente, calar.