O sertão está dentro da gente, já disse Guimarães Rosa. Quem lá nasceu sabe muito bem o significado disso, e Helena Soares sabe. Mineira do Norte de Minas, aventura-se no teatro e na literatura. Em um de seus poemas se anuncia como - poetriz. Helena se entrega com prazer ao seu ofício e nos revela a mulher que sonha, sofre, ama, odeia, esbraveja, sorri, canta, grita... Há peso, leveza e brilho no que escreve, e como é bom ler e se embriagar de sua poesia; pode-se sentir o cheiro, o gosto, a temperatura. O sertão é repleto de vida e nos chega em relevo por meio de frases bem construídas, que preenchem os olhos. Toca a alma. Há lugar para experimentos com as palavras e a pontuação, que nos obriga a descobrir sentidos, imagens, sensações. Figuras mitológicas e personalidades das artes que surgem em sua narrativa evidenciam sua intimidade com o mundo artístico, em especial com o teatro e o cinema, e daí, talvez, a dramaticidade pulsante. Sim, como a autora diz, sua poesia é de sangue, pois tem vida, é vibrante. Não se limita às lembranças do sertão; o urbano também está presente. Para quem mora no alto de um edifício no centro de Belo Horizonte, para quem vê a cidade de cima, realmente voa, e ao bater suas asas sobre a cidade Helena Soares nos mostra um cotidiano duro e áspero, com cenas e personagens que muitas vezes nos são invisíveis, anônimos, coadjuvantes. Mas ao lançar seu olhar sobre eles, a artista extrai beleza, derrama cores pela cidade. E que coincidência - lendo seus poemas pelo computador no escuro do quarto, a luz da tela atrai vários insetos voadores, cujas asas ficam transparentes pelo efeito da luz e me permitem continuar a leitura. Então, pergunto - estão atraídos pela luz ou pela poesia? - Carloman Bonfim.