Há 100 anos, em um pequeno texto de aproximadamente 80 páginas, Wittgenstein apresentava toda a problemática de sua filosofia, tecendo comentários sobre a natureza do mundo, da lógica, da matemática e da essência da linguagem, além de algumas considerações a respeito da natureza da filosofia, da filosofia da ciência, da ética, da religião e do místico. O que chama atenção nesta obra, para além das questões fundamentais, é o estilo de escrita utilizado por ele. Ainda que considerada exótica para os padrões exigentes da época, ela constitui um dos poucos destaques da prosa filosófica alemã. Sua forma de escrever corresponde a sua visão de mundo, às exigências de clareza e exatidão, assim como na boa música, onde cada nota precisa estar no lugar certo. Tudo isto se aplica com mais propriedade ao Tractatus Logico-Philosophicus, pois é nessa obra que os elementos principais que caracterizam a escrita Wittgensteiniana atingiram o mais elevado grau de aperfeiçoamento e simetria arquitetônica. Ao adotar o aforismo como estilo de escrita, Wittgenstein não estava apenas afrontando diretamente o modelo vigente em sua época, mas, antes, estava sendo fiel às suas próprias convicções, ou seja, seguindo sua própria natureza artística. O aforismo faz alusão à exata afinação do timbre de sua voz; tudo o que estivesse fora dessa perspectiva deveria ser abandonado, pois poderia ser prejudicial a sua “afinação”, sendo causa de erro e tormento. Ramsey, Frege, Fann, Black e Stroll foram unânimes em classificar o Tractatus como uma das obras mais desafiadoras da filosofia. Com isso, Wittgenstein exemplifica, não somente em sua obra escrita, mas em sua própria personalidade, como é a filosofia: difícil e profunda.