Mais uma vez, Ernesto Araújo surpreende. Agora ele incursiona por um país, ou melhor por Xarab - uma cidade marítima com um passado de guerras, que encontrou uma espécie de estabilidade pacífica mas que, no fundo, permanece inquieta, insatisfeita, sentindo que lhe cabe a missão de preservar algum tipo de segredo ou de virtude, que o resto do mundo ignora. Xarab não é simplesmente o lugar em que se passa uma história, mas o próprio personagem central dessa história. Xarab é um oráculo que seus próprios habitantes esforçam-se por interpretar, um princípio que cada um deles encarna à sua maneira, entre intrigas de palácio, conflitos afetivos e disputa pelo poder. Xarab é um desafio, um relâmpado no meio de um mundo que adormece ou um sonho querendo brotar no meio de um mundo que nunca dorme. Xarab é a busca do novo, por dentro da tentação da estabilidade, a espera de um acontecer capaz de transbordar a história: "Se vier uma catástrofe, vamos ter de sobreviver e reprovar a terra. Mas desta vez não haverá domingo, nem nada desse tipo. Não haverá o vazio, nem conjugações verbais, não haverá a coluna de Falwa, onde está escrito tudo o que pode acontecer e tudo que jamais acontecerá, nem a coluna de Falwa que tentamos arrancar durante a Guerra do Sol, cinqüenta homens com uma corda, tentando arrancar a coluna da verdade, ficando como uma agulha no pescoço da Terra."