Xenófanes (séc. VI a.C.), filósofo da natureza, teólogo e, acima de tudo, poeta, a quem se atribui a autoria dos primeiros versos satíricos de que se tem notícia na história literária, é um exemplo notável de dedicação à literatura. Parece ter sido também um dos primeiros autores gregos (se não o primeiro) a elaborar uma concepção religiosa monoteísta. A complexidade temática na formulação de conceitos como “essência”, “multiplicidade” e “consciência”, oriundos do desdobramento da diferença entre “opinião” e “conhecimento” — tão cara ao pensamento ocidental —, transparece numa linguagem rica e numa dicção variada — dimensão esquecida de seu trabalho, que esta obra procura recuperar. Com recursos da poesia moderna, como a espacialização e o emprego da linguagem digital na versão de parte dos textos, ampliando, dessa forma, seu poder de comunicação e revelando a atualidade desse autor — banalizado e obscurecido por certos hábitos de leitura da filologia convencional —, busca-se inserir sua produção na corrente literária de hoje, numa perspectiva interessante para o leitor que busca o atual no antigo.